Epitáfio.
Contava o tempo, buscando entre as frestas da porta traços contínuos,
que se exaltavam na harmonia e no caos. Mesmo escondidos por penumbras, os
olhos escreviam o que aconteceria...Vivendo pelo poder do vento, o que terá
embaixo das dunas de areia? O ciclo se repetirá sobre o que hoje se deleita de
miragens? Ou será, como as cinzas de madeira?
A fumaça que se espalhava pela floresta, será que acompanhava o conforto
de uma lareira ou o desespero de um incêndio? Apesar de tudo, o pesar de tudo,
cria-se na própria perspectiva.
No meu mundo, criei nós e
cordas, reescrevi epitáfios - pertencentes às cascas vazias, desenhei quadros
belos - sem nem ao menos saber manusear um pincel, morri e vivi histórias - sem
nunca terem nascido. Será que os galhos que beijam as janelas querem entrar? O
que terá dentro do espelho? Se antes de ser quebrado, já via, cacos espalhados,
cortes nos braços e uma abertura profunda mostrando o passado.
É uma ruína entre montes, uma
lapide, guardando as magoas de uma história perfeita – pois, não foi perfeita.
Entre os pilares quebradiços, as roupas buscam um corpo. Escondendo-se da
exposição ao mundo, papeis deitados de bruços. Acolhido pelos sedimentos com o
tempo, um relógio, que nunca parou de funcionar. As lajes do telhado choram pela culpa de não
terem segurado onde era seguro. Os destroços descansam sobre o solo batido,
flertando com a próxima chuva - para levá-los a um terreno menos súbito. Andar
é como tentar sair do mar com a água acima do umbigo, mas nem sempre é preciso
sair do lugar para ser visto.
Um pequeno pilar fixado ao chão
permanece de pé. Sua cor cinza é contornada pelo marrom das raízes, que se
dividem em tal sincronia, formando suas costelas. No topo, juntam-se, como se
fechassem um remendo. A forma desregulada da superfície, ergue as pétalas, que
dançam com o vento, celebrando a vida.
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